Objetivo


sábado, 7 de julho de 2012

CIDADE DO SALVADOR - DA HOMENAGEM AO ESQUECIMENTO

CIDADE DO SALVADOR


A TARDE 17 DE MARÇO DE 1973



Texto de Reynivaldo Brito / Fotos de Reynivaldo Brito e  Romualdo Bahiense

A grande maioria dos monumentos de Salvador está abandonada e sendo danificada por vândalos e ladrões que arrancam as placas indicativas, letras, quebram os vasos de mármore e outros ornamentos. A falta de policiamento é a principal causa apontada por todos pra essa depredação desenfreada cujos autores ficam impunes. O maior monumento existente na Cidade, o Monumento ao Dois de Julho, no Campo Grande, que tem a figura do caboclo encimada por uma coluna com 25 metros de altura, está com várias peças quebradas e suas escadarias cheias de dejetos. Um dos quatro leões existentes nas escadarias está com a cauda danificada, e uma pequena bacia de mármore foi quebrada ao meio. Um dos “spots” está com o vidro quebrado e o gradil que servia antes de proteção também está danificado. É este o estado em que se encontra o mais belo monumento da Cidade, no ano em que se comemora o Sesquicentenário do 2 de Julho.
 Foto ao lado da estátua de Flora , que é talvez seja o monumento que mais mudou de local em nossa cidade.Agora ela está debaixo de uma grande amendoeira numa praça no bairro da Pituba. Para fotografá-la tive que retirar uma lata de extrato de tomate e uma velha correia de coro que estavam sobre ela.
Ainda no Campo Grande, existia uma pequena estátua de mármore num dos canteiros daquele jardim e que sumiu. Resta apenas o pedestal que também é de mármore e que certamente dentro em pouco desaparecerá. Os responsáveis pela urbanização da Cidade, ao que parece, pouca importância vêm dispensando aos monumentos históricos que são símbolos de nossa cultura. Basta dizer que o monumento a J. J. Seabra, na Praça da Inglaterra, que foi edificado em 1949, tem em suas escadarias um velho caixote de cor amarela onde são guardadas ferramentas de trabalho dos garis.
Além disso, é grande o número de fotógrafos “lambe-lambe” que guardam seus apetrechos nas escadarias do monumento. Como se não bastasse numa escultura em homenagem ao sanitarista Oswaldo Cruz, estão faltando várias letras. Outra, em homenagem aos ferroviários não tem aspecto diferente.
Para completar o estado de abandono plantas daninhas acham-se agarradas sem suas paredes laterais. O monumento é de autoria de A. Caringi.

                                                            SUMIRAM

O pior é que alguns monumentos simplesmente sumiram. É o caso de um que existia em homenagem a Santos Dumont, no Aeroporto Dois de Julho. Afirmam os freqüentadores do bar do aeroporto que a estátua de Santos Dumont “voou”. Pra onde, é que ninguém sabe explicar.
Um belo monumento em homenagem ao médico Dr. Paterson, no Largo da Graça, foi demolido pela Surcap para a construção de um viaduto que, na opinião de muitos, pouco vai melhorar o tráfego da Cidade.
No canteiro de obras acha-se a base do monumento completamente encoberta por ferramentas e materiais imprestáveis.
O médico Dr. Jonh Ligertwood Paterson, residiu e clinicou na Bahia por cerca de 40 anos (1842-1883) e o monumento foi construído por meio de uma subscrição pública promovida pelos amigos, colegas e clientes e foi inaugurado no dia 13 de dezembro de 1886. É todo em granito da Escócia, sua pátria, e o pedestal quadrangular (que está encoberto de materiais imprestáveis) representa uma fonte com torneiras de bronze e sobre ele erguem-se nos ângulos, quatro pilares, que sustentam uma abóboda, e por fora destes, quatro elegantes colunas de granito polido. No centro do pedestal e por baixo da abóboda ficava o busto do Dr. Patterson com o rosto voltado para o poente.
Laconicamente, um operário que trabalhava no último sábado nas obras do viaduto informou que “ o monumento está no almoxarifado da Surcap”. Ele foi todo numerado com letras em amarelo, o que não deixa de ser uma depredação.

                                                    DESCONHECIDOS

Existem ainda monumentos desconhecidos. Em alguns logradouros públicos, foram erguidos bustos e obeliscos em homenagem a pessoas ilustres e feitos notáveis. Hoje, esses monumentos são chamados pelo povo de “monumentos aos desconhecidos”. Um desses está localizado na Avenida da França, bem em frente ao ponto de ônibus de Periperi. O monumento constitui-se de um busto de um senhor e tinha  uma placa indicativa no pedestal.
Roubaram há algum tempo a placa indicativa e a fisionomia do respeitável senhor parece não concordar com o abandono a que foi relegado. Este monumento foi erguido em 1957 e é de autoria de J. Barros. Além do que existia no Campo Grande que desapareceu, e o de Santos Dumont, alguns se acham “guardados” em almoxarifados. Um que existia em frente ao Teatro Castro Alves, de autoria do escultor Mário Cravo, todo em madeira em homenagem ao fanático Antonio Conselheiro acha-se hoje jogado nas dependências do Museu do Unhão.

                                                       OS QUE ANDAM

Outros monumentos realizam verdadeira “via crucis”. Talvez o que mais tenha andado vagando pela cidade seja o que foi erguido em homenagem aos irmãos Pereira. Este monumento esteve no Largo da Fonte Nova onde por várias vezes foi encoberto por empanadas de circos. Foi transferido para as imediações da antiga Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia e agora se acha numa pracinha ao lado da Igreja da Conceição da Praia, na Cidade Baixa. Certamente no futuro ainda dará umas voltinhas por pontos pitorescos de nossa Cidade.
O que foi erguido em homenagem a Teixeira de Freitas, um grande jurista baiano, que também foi homenageado com monumentos até fora de nossas fronteiras, ficava onde hoje funciona a Faculdade de Administração. Foi transferido para o Vale do Canela onde está solitário, num pequeno pedestal desproporcional ao tamanho do mesmo.
A estátua da Flora, que ficava em frente ao Palácio Rio Branco, na Praça Tomé de Souza, foi arrancada de seu lugar de origem e permaneceu durante meses, jogada ao chão, até que construíram uma pracinha, no bairro da Pituba e precisaram de uma estátua para embelezá-lo. Lembraram-se da estátua de Flora e para lá ela foi conduzida e instalada.
Assim nossos monumentos são depredados, abandonados, esquecidos e transferidos ao bel-prazer dos responsáveis pela “urbanização” da Cidade.
É preciso maior respeito aos homens que tanto elevaram o nome da Bahia, e por seus méritos foram homenageados com estátuas e monumentos.




                     










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