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quarta-feira, 23 de maio de 2012

ARTES VISUAIS - ASTOR LIMA, O ESCULTOR QUE IDEALIZOU O MUSEU DA ÁGUA

ARTES VISUAIS
REVISTA NEON MARÇO/ABRIL 2001



O artista Astor Lima é um sonhador.
Desde cedo que demonstrou tendência para as artes. Nasceu no bairro da Soledade e viu a movimentação que acontecia no Queimadinho.
Adulto, lutou até o fim pela restauração e criou, juntamente com outros abnegados, o Museu da Água na Bahia.
Infelizmente, a falta de continuidade administrativa que reina em nosso sistema de governo, o esforço de Astor terminou sendo incompreendido e ele não viu seu projeto ser concretizado a contento: Agora, fala-se na venda ou privatização da Embasa, cujos dirigentes anteriores haviam se sensibilizado pelo projeto.
Lembra Astor que, aos 7 anos, já criava seus próprios brinquedos. Eram aviões, carros e barcos em bambu e mais automóveis, marinetes e caminhões, tudo feito com bizarras ferramentas: faca de cozinha e batedor de carne, o que deixava sua mãe preocupada.
Aos 15 anos cursava o ginásio no Colégio Severino Vieira, tendo como colegas de sala, Alfredo Fontenelle (jornalista), Carlos Anísio Melhor (poeta) e Carlos Augusto Bandeira (pintor) que por sua influência ingressou na escola de Belas Artes, freqüentando de maneira não formal as aulas de pintura de Presciliano Silva e Mendonça Filho, entre as aulas de desenho e esculturas do seu curso.

Diz Astor que, naquela época, com o aprendizado das técnicas de pintura, e utilizando, com tinta, tabatinga, alvaiade, roxo-terra e outros pigmentos, adicionado às óleo de luz e com pincéis rústicos por ele fabricados reproduziu na parede do seu quarto três modelos nus de mulher, em tamanho natural.
Permaneceram nesse lugar até o dia em que o senhor Alfredo, seu pai, descobriu; taxando-o de imoral, pois quilo era uma incidência para suas irmãs.
Tentando remediar a situação, Astor recortou em papel, sutiãs e calcinhas, mas em vão. O senhor Alfredo mandou raspar e pintar a parede, dando-lhe em seguida um corretivo. Ato contínuo, Astor deixa a Escola de Belas Artes.
Amante das artes, freqüentava rodas de artistas e intelectuais pois, após meteórica passagem pela Escola de Belas Artes aspirava fazer teatro e cinema, àquela época também censurados pela maioria dos pais. Seu universo artístico incluía, Geraldo Del Rey, Adriano Lisboa, Helena Ignês, Glauber Rocha, Rex Schindler, Ildásio Tavares, e Calasans Neto, Nilda Spencer entre outros. Com esses planos somados às idéias socialistas, acabou por ser deportado pelo seu pai a curtir um exílio no internato do Colégio Jackson de Figueredo, em Aracaju-SE, onde ficou por dois anos.
Retornando a Salvador, concluiu o curso de ginásio e foi ser bancário, depois corretor de seguros, de títulos, de ações, de imóveis e empresário da construção civil. Casou-se e hoje é pai de quatro filhos.
Retornou suas atividades artísticas na década de 70, tendo como incentivador o pintor e crítico “ Papito” (Bráulio Aquino), passando a freqüentar ateliers de artistas como Calazans Neto, Mario Cravo Jr., Carlos Augusto Bandeira, Arlindo Gomes, Sérgio Sampaio entre outros. Com sua produção artística estreou a sua primeira exposição coletiva na Panorama Galeria de Arte, onde, em sua abertura, conseguiu comercializar uma obra chamada de “Marlin”, que é uma escultura em metal, utilizando técnica mista sobre suporte de madeira.
Estreou individualmente com a exposição “Alados”, no Museu de Arte da Bahia,em 1985, tendo sido bastante comentada nos meios artísticos. Conta hoje com algumas obras em acervos de museus nacionais e estrangeiros. Recebeu alguns prêmios, inclusive em bienal, tendo seu trabalho divulgado em alguns jornais da Europa. Participou como escultor da mostra “Geração 70”, e conta hoje com a participação em inúmeras mostras individuais e coletivas, dentro e fora do Estado.
Deixando a iniciativa privada na década de 80, ingressou na Embasa, em 1984, com o objetivo de criar na empresa um espaço cultural, que era para isto contava como apoio da professora Olívia Barradas, então presidente da Fundação Cultural do Estado da Bahia, possibilitando-o a iniciar uma pesquisa bibliográfica e iconográfica voltada para o primitivo abastecimento de água da Cidade do Salvador e do Estado da Bahia, como um todo, tendo como idéia inicial a criação do “Museu da Água”, que teria como finalidade a preservação dos mananciais, como: represas, lagos, rios, fontes e chafarizes, enfim, equipamentos do primitivo serviço de água de nosso Estado, monumento da nossa história.
Produzindo arte e pesquisando sobre os primórdios do abastecimento de água, fundou em 1989, juntamente com artistas e intelectuais o Centro da Memória da Água na Bahia, contando como sócios fundadores personalidades como: jornalista Jorge Calmon, historiador José Calazans Brandão da Silva, professor Cid Teixeira, deputado federal Fernando de Santana, senador Juthay Magalhães e o então vereador João Henrique Barradas Carneiro, a museóloga Gilka de Santana, o pintor Calazans Neto, a professora Consuelo Pondé de Sena, o desenhista Edson Calmon, entre outros.
À frente de Memória da Água, como seu presidente, promoveu alguns eventos, como a restauração de pontes e chafarizes da nossa cidade. Conseguiu o tombamento pela União do nosso importante sítio histórico da antiga fazenda Santo Antonio do Queimado, sede da percursora Companhia do Queimado, primeira concessionária mercantilista do Brasil ( 1852). Com sua então famosa água da fonte do Queimado, que assim compõem Parque Fonte do Queimado, elevado a patrimônio cultural do país através da Resolução número 185 do Ministério da Cultura de 28 de novembro de 1996.
Junto à iniciativa privada conseguiu a restauração de seculares prédios da Companhia do Queimado, que hoje abriam a Memória da água, onde realizou diversos eventos como: Movimento Arte Natureza, juntamente com artistas baianos a exemplo de Calazans Neto, Carybé, Carlos Bastos, Capelotti, Celuque,César Romero, Denise Pitágoras, Deraldo Lima, Floriano Teixeira, Ana Maria Vilar, Maso Ivan Bergue,Graça Ramos,Maria Adair,Leonel Mattos,Leonardo Nogueira, Núbia Espinheira, Lobo, Hilda Maria, Zeca Araújo, Papito, entre outros; Corrida da Água “ Pintando o verde renovamos a esperança”, de cunhos ecológicos e acrescentou como maiores realizações, a visita à Memória da Água do trineto do Imperador Dom Pedro II, o Príncipe Dom João Henrique de Orleans e Bragança, que promoveu a abertura da exposição itinerante Arte Natureza 90; participação da Memória da Água na Eco 92, no Rio de Janeiro, realizando no Palácio da Cultura Gustavo Capanena, no Salão Carlos Drumond de Andrade, uma grande exposição com a Pinacoteca Arte Natureza 90 e mais o acervo iconográfico da Memória da Água na Bahia, e esculturas ecológicas em pneus expostas nas áreas de jardins de sua autoria.
Ele acredita ser protegido dos orixás Oxalá e Xangô. Sua maior inspiração, no entanto o orixá Oxum, deusa das águas doces. Suas esculturas em sua maioria tem inspiração neste orixá.
Escultor autodidata, pintor, fotógrafo, designer,pesquisador e agora historiador,pois há muito trabalho para publicar o seu livro “ Fontes e Chafarizes de Salvador”, tendo como subtítulo Roteiro Histórico das Águas em Quatro Séculos e Meio”.

Este é o Astor que conheço.
Intransigente, às vezes com os objetivos que almeja, torna-se assim incompreendido, e isto o angustia. No afã de concretizar o seu sonho de ver o Museu da Água funcionando a todo vapor. Astor Lima fica até mesmo agressivo e isto dificulta o seu trabalho de convencimento.
Tenho informações, que ainda carecem de confirmação de que o Museu seria desativado e que o imóvel teria outra destinação. Se isto acontecer será mais um atentado à cultura baiana e aqui estaremos para denunciar esta estupidez, caso venha a se concretizar.



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