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quinta-feira, 5 de abril de 2012

RELIGIÃO - PREFEITOS PEDEM AO PAPA SAÍDA DE BISPO POR SUBVERSÃO

Revista Manchete 2 de dezembro de 1970.

Questão fundiária

Inconformados com a atuação pastoral do bispo de Propriá, Dom José Brandão de Castro,(foto) vinte prefeitos sergipanos se mobilizaram para redigir um documento, que será enviado ao Papa João Paulo II , pedindo a transferência daquele prelado. Os prefeitos acusam astro de estar incentivando a revolta entre os camponeses, prejudicando assim os proprietários de terras da região. Mas o bispo te outra visão do problema. Sem temer as consequências do movimento e negando qualquer conteúdo subversivo em sua atuação, ele continua denunciando a ameaça de expulsão de várias famílias de posseiros. “São mais de trezentas famílias, no no município de Pacatuba”, diz ele.

JUROS

A Diocese de Propriá abrange trinta e cinco municípios e uma população de mais de duzentos e trinta mil habitantes. O bispo considera a situação agrária muito crítica: “O espaço das pastagens para o gado tem aumentado, enquanto diminuem os campos de plantação. A própria Superintendência de Desenvolvimento da Agricultura e Pecuária de Sergipe reconheceu que existem imensas áreas de pastagens ociosas, em comparação com a quantidade do rebanho existente, e acredito que alguma coisa deverá ser feita para ampliar a produção de alimentos. Após acentuar que a política creditícia governamental não ajuda o pequeno agricultor, Castro afirmou , que os juros bancários são exorbitantes. A seguir, apontou várias distorções nos projetos em execução na região. “o Polonordeste, por exemplo, está ocupando vastas áreas para plantio da cana, com vis tas à produção de álcool, o que não atende aos interesses da população local, porque nele não há lugar para o povo trabalhar”.

AMEAÇAS

Castro diz que já foi até ameaçado de morte em consequência de seu trabalho pastoral. “Os motivos que levaram o prefeito Antônio Brito, de Propriá, a liderar o movimento pela minha transferência – prossegue - se ligam à linha de atuação determinada pela Pastoral da Terra. Em consonância com a CNBB, temos procurado conscientizar os lavradores de região sobre seu direitos violados em muitas áreas , como na da Codevasf, na Fazenda Belém, que pertence à família do Prefeito de Propriá, e em outros locais”. Castro volta a negar veementemente o caráter subversivo que desejam dar ao seu trabalho pastoral, solidário com a linha dos sindicatos de trabalhadores rurais. “Na igreja – diz ele - cada crist
 ão pode expressar sua vontade. Não nego ao prefeito o direito de solicitar a minha remoção, embora não tenha certeza se vinte prefeitos assinaram realmente um documento com essa finalidade, como anunciou a imprensa. Na Igreja, o bispo é autônomo e para ser transferido deve ser levado em conta a sua vontade. E não tenho vontade de sair de Propriá.” Para Castro, a retomada da Ilha de São Pedro, no Baixo São Francisco, considerada propriedade da família Brito, deve ter sido a causa da iniciativa dos prefeitos.


INVASÃO
Castro recorda que vinte e três famílias , totalizando umas duzentas e quarenta pessoas do povoado de Caiçara, estavam há quase dois anos sem trabalho. Resolveram por isso, em setembro último, invadir a abandonada ilha de São Pedro, no que foram apoiados por habitantes de outros povoados e elementos do Sindicato Rural de Porto da Folha. A ilha foi a primeira sede da paróquia de Porto da Folha e seus habitantes eram os índios Xokós, dos quais descendem os caiçarenses, havia ali centenas de casas até um convento de capuchinhos, posteriormente destruído pela família Brito, ao expulsar os moradores no início deste século. Mas os Brito conseguiram uma liminar de reintegração de posse, apesar de a ilha não ser citada em nenhum documento como de sua propriedade. A questão está agora na Justiçadevido a uma ação movida pelo advogado dos lavradores, Antônio Jacinto Filho. Informa o bispo que este é um dos vários problemas de terra na região, acrescentando que mais de trezentas famílias da Fazenda de Santana dos Frades, no município de Pacatuba, estão alarmadas com as cercas levantadas no local, cortando ao meio suas glebas de plantação de côco. Comenta-se que a fazenda foi vendida a um grande proprietário de terras e para evitar que sejam desalojados os moradores vão pedir a manutenção de posse através do Sindicato dos Trabalhadores Rurais da região.
                                   

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