Objetivo


quarta-feira, 11 de abril de 2012

COMPORTAMENTO - O ANIVERSÁRIO DE UM PRIMO



Crônica

Convite
A chegada dos meus 70 anos vai ser uma oportunidade para um encontro festivo com familiares e amigos a fim de expressar minha gratidão pela sua presença em minha vida.
 Aguardo seu abraço.
                              Fulano de tal
                                                

Recebi com alegria este convite inesperado de um primo, que não via há vários anos. Tinha vagas lembranças do parente, embora o parentesco seja bem próximo, pois o mesmo é sobrinho da minha mãe, filho de um irmão dela, e companheiros de infância , que o tempo se encarregou de separar. Logo, era uma oportunidade imperdível para reatar os laços de amizade e lembrar o tempo de juventude que passamos juntos numa cidadezinha no interior de Sergipe, a saudosa Riachão dos Dantas.

O primo convidou-me para a comemoração do aniversário de 70 anos na capital sergipana, a bela cidade de Aracaju. Decidido, resolvi arrumar a mala e na data impressa no convite rumei para lá juntamente com a esposa. A viagem foi tranqüila curtindo a paisagem da chamada Linha Verde. Foram mais de trezentos quilômetros só de ida. Lá chegando tomei a direção do mar em busca de um hotel para me hospedar. Mas, resolvi ligar para o irmão do aniversariante ,com quem mantenho uma amizade mais próxima, inclusive temos nos encontrado com alguma frequência. Este não  deixou que fóssemos para o hotel e resolveu vir ao nosso encontro e nos levou para sua casa.

Almoçamos , após o descanso sugeri ao anfitrião que desse um telefonema para o irmão para comunicar que seu primo chegara e viera de Salvador para dar-lhe um abraço pelo aniversário.

Foi ai que começou a minha decepção. Com certa vergonha o irmão ficou disfarçando, dizendo que o aniversariante poderia estar descansando... Eram por volta das 16 horas. Esperava que ao chegar pudesse estar com o primo aniversariante para trocar algumas palavras. Nada!

À noite fomos conduzidos  para o local determinado onde iria acontecer a recepção do septuagenário. A condutora anfitriã parou o carro, não sei porque ,bem longe do prédio obrigando-nos a atravessar duas pistas de alta velocidade da orla de Aracaju e enfrentar uma chuva passageira de grossos pingos. Tudo Bem! Lá chegando fomos recebidos na entrada pelo aniversariante que trajava um terno escuro, mal arrumado e, juntamente com umas dez pessoas desconhecidas intimados a tirar uma daquelas fotografias chatas , que você nunca terá oportunidade de ver revelada. Caso uma cópia chegue às suas mãos você não vai reconhecer quase nenhum dos que ali aparecem.

Já percebi que o evento não era nada daquilo que esperava, e a recepção na entrada já indicava a frieza com que nós  e alguns  que se deslocaram de outras cidades seriam recebidos.

Sentamos numa mesa de poucos conhecidos. Pouco falei, até que por sorte encontrei-me com outra vítima, um primo que estava completamente perdido no salão.Viera da cidade de Caldas de Cipó, interior da Bahia.  Ficamos juntos conversando e analisando aquela noite bizarra e fria.

Começaram os discursos enaltecendo o aniversariante. Primeiro, foi a esposa que supervalorizou suas qualidades intelectuais, e é claro, esqueceu os defeitos; em seguida veio uma jovem, que naquela hora soube que era sua filha, e finalmente ,o aniversariante.

A orquestra barulhenta composta de vários instrumentos de sopro contribuía para o silêncio entre os convidados, até que o aniversariante resolveu cantar uma canção antiga a Sertaneja, completamente desentoado e sem qualquer empolgação. Em seguida vieram outros cantores e cantoras, todos amadores, os quais mais incomodaram que agradaram os ouvidos das vítimas-convidadas.

Como é normal nessas ocasiões o anfitrião chega às mesas para conversar com os convidados. O aniversariante não apareceu. Foram servidos os petiscos e bebidas. O parabéns foi cantado na antesala por umas poucas pessoas que tinham se acomodado nas mesas por ali, e a maioria dos convidados não foi chamado, inclusive os dois  primos.

Alguns minutos após os parabéns resolvi dizer ao anfitrião, irmão do homenageado, que desejava ir embora e, assim sai sem ter nem oportunidade de  dar os parabéns ao aniversariante. Ainda bem,que não entreguei o presente que havia comprado para dar ao esquisito . Senão, teria voltado mais frustrado ainda.
A lição que fica é que devemos deixar o passado onde ele está.
Observação: O nome do aniversariante prefiro não revelar para não dar-lhe mais importância



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