Objetivo


segunda-feira, 26 de março de 2012

MAÇONARIA - MAÇONS EM BUSCA DA UNIÃO

19 de novembro de 1977


REVISTA: Manchete

Em Salvador, uma grande convenção poderá marcar um novo passo na reaproximação entre as instituições maçônicas e a Igreja Católica


Reportagem de Reynivaldo Brito

Fotos de Arlindo Félix



Para todos aqueles que acompanham de perto o desenvolvimento da maçonaria no Brasil, tanto iniciados quanto profanos, a Segunda Convenção Nacional do Rito Brasileiro poderá ter resultados apreciáveis para o futuro imediato da instituição. Realizada neste fim de semana, em Salvador, sob o patrocínio do Supremo Conclave do Brasil e sob a responsabilidade da Loja do Grande Oriente do Estado da Bahia, esta Convenção foi encerrada com uma solenidade pública que sensibilizou a população de Salvador: os 500 convencionais desfilaram paramentados pelas ruas centrais da capital, visitaram a estátua do poeta Castro Alves e a cripta de Rui Barbosa, na sede do Tribunal de Justiça do Estado.
Segundo os observadores que acompanham mais de perto a evolução da maçonaria nestes últimos anos, esta Convenção Nacional deverá ter uma influência decisiva em dois domínios muito especiais: congraçamento cada vez mais estreito das duas grandes correntes maçônicas existentes no Brasil e normalização do relacionamento com a Igreja Católica.

No que se refere ao primeiro item, convém relembrar que a maçonaria brasileira acabou, com o correr dos tempos, se cindindo em dois ramos principais: o Grande Oriente e as Grandes Lojas do Brasil. Os historiadores reconhecem que o Grande Oriente do Brasil representa a maçonaria tradicional e regular, aqui instituída em 1822. Em 1925 houve uma divergência no Conselho da Ordem e os dissidentes que desejavam permanecer fiéis ao espírito da instituição, apesar das discordâncias sobre pontos não essenciais, resolveram se unir sob a égide das Grandes Lojas do Brasil. Atualmente, tudo indica que a tendência à reunificação vai ganhando uma força cada vez maior. Na maioria dos estados, os iniciados dos dois ramos se frequentam num regime de coexistência pacífica e até mesmo dinâmica. O presidente de honra da Convenção e grão-mestre do Grande Oriente da Bahia, deputado arenista Clemenceau Gomes Teixeira, explica que, em Salvador, apesar de as Grandes Lojas contarem com maior número de adeptos, não existe nenhuma oposição ou rivalidade. “Para provar a que ponto existe um congraçamento real entre ambas as tendências”, diz o Grão-Mestre, “basta dizer que o orador oficial da solenidade de instalação da 2. Convenção Nacional foi o Professor Walfrido Morais, que é orador da Grande Loja. Estamos um harmonia integral e nos consideramos todos irmãos.” Walfrido Morais, por sua vez, relembro que os maçons de todas as tendências jamais poderão perder este sentido profundo de fraternidade que os une em torno dos grandes vultos da maçonaria universal, entre os quais ele cita Goethe, Lessing, Mozart, Voltaire, Augusto Comte, Washington, Simon Bolívar, Garibaldi, Roosevelt, Tiradentes, Pedro I, Gonçalves Dias, Caxias, Deodoro, Carlos Gomes, Castro Alves, Rui Barbosa e tantos outros, cujo valor os iniciados conhecem e fazem questão de ressaltar.

O coordenador geral da Convenção, Murilo Fernandes Gandra, referindo-se às origens históricas do Rito Brasileiro, lembrou que desde sua instalação legal por Lauro Sodré, em 1914, só em 1968 é que ocorreu a oficialização normal, quando o irmão Álvaro Palmeira nomeou uma comissão de 15 membros para promover a reestruturação dos princípios específicos que deveriam reger a liturgia e o cerimonial da maçonaria brasileira. Para Murilo Fernandes Gandra, o que constitui a essencial da maçonaria é a preocupação de fraternidade que reúne homens livres e de boa vontade, sem distinção de raça, crença ou nacionalidade e sem discriminação de qualquer espécie.

No que se refere às relações entre a maçonaria e a Igreja Católica, é necessário lembrar que, apesar dos progressos realizados nos últimos anos em certos países da Europa, principalmente França e Itália, no Brasil ainda subsistiam certas dificuldades, decorrentes principalmente de conflitos do passado. As sucessivas condenações que penalizavam os cristãos decididos a aderir ao código maçônico se exacerbaram ao tempo da famosa Questão Religiosa e acabaram envenenando as relações entre as duas instituições. Depois que o então bispo auxiliar de Aracaju, Dom Luciano Duarte, aceitou, há alguns anos, o convite para fazer uma conferência na loja maçônica da capital, as tensões diminuíram consideravelmente. Durante a 2. Convenção Nacional, a alta cúpula da maçonaria brasileira decidiu condecorar o cardeal-arcebispo de Salvador, primaz do Brasil, Dom Avelar Brandão Viela, com o diploma de benemérito. O cardeal não só aceitou a distinção, como fez questão de enviar á Convenção uma mensagem de agradecimento na qual deixa bem claro que a Igreja respeita todos aqueles que, “no mundo de hoje, tão cheio de problemas, procuram iluminar as mentes na busca da verdade sem preconceitos, para o aconchego dos corações que anseiam por fazer o bem em todas as direções”. E o cardeal continua: “A Igreja sente-se mais do que nunca mãe e mestre... procurando ver e sentir os problemas dos outros através de um diálogo fraterno e bem fundamentado, procurando examinar sempre as ilhas de convergências, que são tantas, e tentando compreender as posições específicas de cada instituição ou sistema político e social”.

Para os iniciados que desejam realmente ter aberto um acesso ao espírito de ecumenismo que paira sobre o mundo depois do Concílio Vaticano II, estes resultados da 2. Convenção Nacional do Rito Brasileiro podem ser considerados como históricos.





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