Objetivo


quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

COMPORTAMENTO - TOPLESS: O BRASIL DESCOBRE OS SEIOS


 Reportagem Reynivaldo Brito e Marina Wodke
Fotos Aristides Batista e Antonio Carlos Esteves


                                                                                  2 de Fevereiro REVISTA: Manchete n.1.450






 As baianas fazem topless na praia dos Artistas


                      A gaúcha mostrou tranquilidade ao exibir os seios na praia.

Do Rio Grande do Sul ao Pará, todas estão aderindo à nova mania . A onda veio de longe, mais exatamente de Saint-Tropez. Demorou um pouco a chegar – culpa do nosso subdesenvolvimento. Mas agora parece que chegou, foi visto e venceu: o topless está em todas, nas praias do Sul e do Norte. Semana passada, foi a moça paraense que passou de moto – e de moto própria estava de seios à mostra. Agora, nas praias sulistas, as jovens exibem o busto que os ares pampeiros lhes deram. Na Bahia, o Cardeal Dom Avelar Brandão faz advertências, pois baianas e baianos aderiram à moda, só que, para os homens, à falta de seios, eles exibem outras partes que ficam à ré dos acontecimentos. Tudo bem. Se Nostradamus ressuscitasse não ficaria escandalizado: ele previu que no final dos tempos tudo ia dar numa grande confusão. No Rio, tudo bem numa boa; na Bahia, acalorados debates; no Recife, entrou areia no topless Para não fugir à tradição, o topless mais extravagante foi o baiano, que esnobou o top e preferiu o bottomless, variante bissexual do mesmo fenômeno. Deu-se que dois rapazes, em praia central, tiraram os calções e começaram a pular diante da máquina fotográfica de um amigo. Uma advogada que passava pelo local ficou escandalizada, chamaram a polícia, houve ameaças de enquadramento na lei que proíbe os atentados ao pudor e ofensa aos bons costumes. O episódio ocorreu no mesmo dia em que a polícia baiana liberou o topless quadrado e convencional, ao mesmo tempo em que dava conselhos aos maridos cujas consortes iam curtir a novidade: os esposos devem dar uma de esportiva espartana (e baiana) para não se sentirem ofendidos com algumas piadinhas – que sempre as há em horas tais. Já no Recife, as coisas foram bem diferentes: após garantir o uso de topless através de um habeas corpus preventivo, a estudante Carlene Barbosa, 19 anos, dirigiu-se fagueira à praia da Boa Viagem, mas foi surpreendida com a reação não das autoridades, mas da própria população. Resultado: foi obrigada a deixar a praia porque um grupo hostil chegou até a ação, jogando areia sobre ela.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

CIDADE DE SALVADOR - A MORTE DOS SOBRADÕES DAS RUAS DO PELOURINHO



Revista Manchete
12 de agosto de 1978
Fotos Arestides Batista


Centenas de casarões oitocentistas que compõem o chamado Conjunto Arquitetônico do Pelourinho, em Salvador, estão ameaçadas de desabamento. Muitos já estão em ruínas devido à grande ocorrência de incêndios e depredações de toda natureza. O conjunto engloba várias ruas que vão do Terreiro de Jesus até o Carmo, onde estão localizados importantes monumentos históricos e igrejas, entre elas a Catedral Basílica, a Igreja de São Francisco, a do Carmo, e de São Domingos e a Rosário dos Pretos. Ali está também o Colégio dos Jesuítas e muitos prédios de inestimável valor arquitetônico, a exemplo do Solar do Ferrão. O Pelourinho é um dos pontos mais procurados pelos visitantes e tem fama internacional, por ser um dos poucos conjuntos coloniais localizados no centro de uma grande cidade. Foi ali que Salvador começou a se desenvolver e ali eram tomadas as decisões e realizados negócios na Bahia Colonial. Hoje, o turista vê apenas a Praça José de Alencar (mais conhecida pelo Largo do Pelourinho) com os prédios restaurados e com suas fachadas coloridas. Mas, ao percorrer algumas das ruas que estão por trás do largo, o visitante encontra dezenas de casarões em ruínas, o lixo tomando todo o leito das ruas e ruelas e as prostitutas perambulando a qualquer hora do dia.
São duas faces: o largo, que é o cartão-postal, e o restante do conjunto, que está desabando pela omissão dos órgãos responsáveis pela sua conservação e pelo descaso a que as várias irmandades religiosas relegaram seus imóveis. Esses prédios estão alugados a pessoas que os sublocam e ali residem centenas de famílias misturadas com a mais baixa prostituição. Poucos se atrevem a andar pelas ruas do conjunto, mesmo durante o dia, porque são alvo fácil de ladrões que arrancam os pertences das mãos dos visitantes e desaparecem misteriosamente por entre as ruínas dos casarões. Segundo informa o diretor da Fundação do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia, Mário Mendonça, seriam necessários inicialmente Cr$ 120 milhões para evitar que mais quarenta casarões venham a desabar. No entendimento que manteve com o governador da Bahia, Roberto Santos, foi informado de que o governo do estado não tem condições de liberar verba, que representa quatro vezes o orçamento anual do órgão que dirige.
Negócio. Ao mesmo tempo o arquiteto Mário Mendonça tocou num ponto crucial da questão: os proprietários dos imóveis tombados não se interessam em conservá-los, preferindo que o fogo os destrua ou que desabem, pois logo poderão ser desapropriados. É a filosofia do deixa-cair, como está sendo comentado em Salvador. O Conselho comunitário do Maciel, criado recentemente, que congrega religiosos e moradores da área, já denunciou por várias vezes pela imprensa baiana a necessidade de uma política mais eficaz e até agora nada de novo foi anunciado. No dia 10 de julho, mais dois casarões desabaram na Rua Gregório de Matos, deixando ao desabrigo mais de trinta pessoas. A maioria mulheres e crianças. Insistindo em suas dificuldades, Mendonça diz que até o próximo ano a Fundação não tem condições de preservar ou levantar os prédios desabados na Gregório de Matos. Esses casarões pertencem à Prefeitura de Salvador, à Irmandade de São Domingos e à Santa Casa da Misericórdia. Outros que ameaçam ruir estão nas ruas Inácio Acioly, Gregório de Matos, Francisco Moniz Barreto, no Paço e Ladeira do Carmo, totalizando, de acordo com o levantamento da Fundação do Patrimônio, cerca de quarenta imóveis.
Recursos. Já o diretor da 5a. Região do IPHAN, Fernando da Rocha Peres, revelou que solicitará recursos à direção nacional do órgão para serem aplicados nos casarões destruídos com o desabamento. Ele mesmo diz que é necessário uma política que venha a remover os problemas causados pela sublocação de vários imóveis pertencentes às irmandades e outras instituições baianas. Outros técnicos ligados ao problema asseguram que os proprietários cruzaram os braços na esperança que seus imóveis sejam restaurados pelos órgãos do governo e na realidade muitos deles não dispõem de recursos para recuperar os casarões. Os trabalhos de restauração são muito caros porque são demasiadamente demorados e exigem uma mão-de-obra especializada, além das limitações impostas a qualquer imóvel tombado pelo IPHAN. Assim muitos proprietários ficam à espera da tão prometida desapropriação. Enquanto isso, os casarões vão caindo e muitos certamente não serão reerguidos obedecendo à sua planta original. Para evitar maiores estragos, o trânsito está proibido parcialmente em vários ruas e também o estacionamento.
Um item que estaria prejudicando o trabalho de recuperação da área: é imprescindível que a Fundação seja proprietária do imóvel. Com isto o órgão será transformado dentro em breve numa grande imobiliária e obrigado a sublocar muitos dos casarões restaurados, porque não terá condições de ocupa-los na totalidade. Mas para isto seriam necessários muitos milhões de cruzeiros e o seu orçamento minguado nem está dando para escorar aqueles prédios ameaçados de desabamento. Por outro lado, uma modificação nesse item, ou seja, a Fundação passaria a recuperar qualquer imóvel que achasse de interesse arquitetônico ou histórico, iria beneficiar de imediato o proprietário ou proprietários do mesmo, e nunca mais teria o dinheiro aplicado de volta ou qualquer autoridade sobre ele. Diante desse impasse e das verbas precárias, só resta assistir de longe e denunciar o descaso a que está relegado um dos mais importantes conjuntos arquitetônicos do país. Paralelamente, a febre imobiliária que assola as capitais brasileiras, e também Salvador, vai atacando outras áreas consideradas privilegiadas e perto da orla marítima, onde a valorização é galopante. É para essas áreas que são desviados os recursos governamentais no oferecimento de toda sorte de serviços e infra-estrutura.
Escoramento. Antes de esgotar seus recursos, a Fundação do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia fez algumas restaurações importantes, especialmente no Largo do Pelourinho, até mesmo com financiamento do governo federal. Essas obras abrangem também o Quarteirão 10-M, parcialmente habitado, da Ladeira do Carmo, dos números 28 e 30, da Rua João de Deus, dos números 12 a 18, da Rua Gregório de Matos, vizinhos aos dois prédios que desabaram recentemente, o número 30 da Rua Leovigildo de Carvalho, e o 28 da Rua Inácio Acioli. Mas este escoramento é uma etapa primária do trabalho, que deve seguir-se à de consolidação e restauração. Como a Fundação não dispõe de mais dinheiro, esses prédios estão ameaçados de desabar.
Defesa. O diretor do IPHAN na Bahia, Fernando da Rocha Peres, conhecendo os problemas que enfrentam os monumentos baianos, encaminhou ao Governador Robertos Santos um expediente onde sugere a criação de uma comissão especial para elaboração de um elenco de medidas protetoras dos bens imóveis e móveis de excepcional valor histórico e artístico existentes no estado e mais particularmente em Salvador. Esta comissão deveria ser coordenada por um dos diretores das fundações estaduais e presidida pelo secretário da Educação e Cultura. Dessa comissão participariam também representantes da Prefeitura de Salvador, do IPHAN, Secretaria de Segurança Pública, Arquidiocese de Salvador, Corpo de Bombeiros, Associação Baiana de Imprensa, Fundação Cultural do Estado e Fundação do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia. Ele também defende que o governo deve solicitar da Secretaria de Planejamento da Presidência da República e do Ministério da Educação e Cultura, através dos órgãos competentes, os recursos necessários para cobertura financeira do que for planejado e deverá ser executado.
Cartão-postal. Os prédios do Largo do Pelourinho e da Rua Alfredo Brito (a que desce do Terreiro de Jesus até o Largo) estão pintados e restaurados. Ali o turista pode fazer belas fotos coloridas sob muitos ângulos. Mas o problema se agrava nas ruas paralelas e transversais, onde vivem centenas de prostitutas e subempregados. Elas ficam sentadas nos batentes dos velhos casarões, dirigindo palavrões e convites aos passantes. Mas se encontram também no Pelourinho vários artesãos que trabalham em tipografias rudimentares, fazendo molduras e flores e desenvolvendo um rico e variado sistema primário de produção. Enquanto as verbas não chegam, os casarões continuarão caindo e sendo destruídos pelo tempo e pelo fogo. Criada há dez anos, somente agora a Fundação do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia terá o seu plano diretor, que absorverá todos os problemas da área, incluindo o Modelo Operacional de Recuperação Física Ambiental e Cadastramento e o Modelo de Ocupação Físico-Social, com vistas a promover o desenvolvimento social. Para conclusão do plano, teremos que aguardar uns quatorze meses, quando estarão concluídas algumas das pesquisas encomendadas junto aos moradores de toda a área tombada.
Os turistas continuarão tirando seus retratos ao lado dos velhos casarões do Largo do Pelourinho, fotografando baianas ricamente vestidas e mesmo comprando berimbaus que não emitem um som afinado. Esta imagem continuará assim correndo os quatro cantos do país e mesmo do exterior, vendendo a boa imagem preparada pelos burocratas do turismo. Mas também as mulheres continuarão habitando os fétidos casarões que ameaçam desabar, os marginais roubando os transeuntes desavisados e as irmandades permanecerão à espera de uma dádiva do céu ou da ajuda dos homens encarregados da política de conservação da área. São duas faces para serem vistas e vividas.
(Reynivaldo Brito/Salvador)

CONTROLE DA NATALIDADE - BAIANO ACHA QUE BRASIL PODERIA SER PIONEIRO


Revista Manchete 12 de agosto de 1978


Cientista baiano Elsimar Coutinho, que tem feito várias experiências no campo de reprodução humana, está convencido de que em pouco tempo haverá também bancos de óvulos (como já existem os de espermatozoides) e que qualquer mulher poderá contratar neles a implantação de um óvulo fecundado para ter um filho com determinadas características – moreno, olhos verdes, 1,75 de altura etc.
Embora ele assegure não haver muitas dificuldades – sob os aspectos técnico e humano – para a fecundação in vitro e posterior implantação no útero, faz questão de alertar que a experiência “tem de ser repetida algumas vezes” até o sucesso absoluto. “Nem sempre o óvulo fecundado que é introduzido na paciente se desenvolve”, afirmou.
O Dr. Elsimar Coutinho acha que se a experiência agora completada com êxito na Inglaterra tivesse sido feita aqui no Brasil, talvez a reação não fosse de imediata aceitação. “Mas como foi feita por um médico estrangeiro, todo brasileiro bate palmas. Não sei se alguém já pensou o que aconteceria se, por uma deficiência hereditária recessiva, a criança nascida em ambiente de laboratório apresentasse alguma deformação física. Certamente o médico seria acusado de fabricar monstrengos e condenado por organismos médicos. Seria crucificado vivo.”
Diz também o cientista que preconceitos e incompreensões impediram que o primeiro bebê de proveta da história nascesse na Bahia, pois sua equipe está preparada tecnicamente e em recursos humanos para realizar a experiência com sucesso. “O que me levou a abandonar o projeto é que estou respondendo injustamente a processos por ter prestado informações à imprensa sobre minhas experiências na área de reprodução humana. Isso porque alguns colegas que ocupam cargos em órgãos de fiscalização do exercício profissional não acompanham como deviam o desenvolvimento da ciência.”
Após lembrar que o Brasil tem “milhares de crianças que precisam ser adotadas”, o Dr. Elsimar admite não saber se seria justo colocar um programa assim como prioritário. Diz também que no momento está desenvolvendo alguns projetos prioritários na área da reprodução humana “que virão beneficiar não apenas uma ou duas pacientes, mas toda a coletividade”.
Para o cientista, o risco da fecundação in vitro e posterior implantação no útero “é relativamente pequeno porque quando se gera um óvulo defeituoso ele não implanta. Os defeitos maiores podem ocorrer depois da implantação, quando através do organismo materno o embrião é atingido por substâncias tóxicas que vêm determinar as deformações físicas. Mas qualquer mulher grávida está sujeita a isso”.
Quando à necessidade de a mulher se sujeitar á repetição da experiência até que ela obtenha êxito, argumenta o Dr. Elsimar que o mesmo ocorre com a inseminação artificial. E alerta: “Os colegas brasileiros que estejam em condições de realizar a experiência devem estar preparados para repeti-la muitas e muitas vezes.”

POLÍTICA - ESCRITOR VOLTA DO EXÍLIO


Manchete - 12 de agosto de 1978.
É chamado à polícia e retorna sua vida normal
Depois de oito anos de exílio, retornou a Salvador o poeta, escritor e sociólogo Fernando Batinga de Mendonça, que viveu no Chile, Alemanha Ocidental, Portugal e França, onde publicou algumas de suas novelas e contos. Chegou procedente de Lisboa, numa viagem patrocinada e organizada pelo Alto Comissariado da ONU, com sede em Genebra, porém, antes de partir, foi obrigado a assinar um documento declarando que retornava por livre e espontânea vontade e que, ao pisar em solo brasileiro, cessava qualquer garantia por parte das Nações Unidas. Mesmo correndo o risco de ser preso, Batinga preferiu voltar ao Brasil para, entre outras coisas, rever o filho de 8 anos de idade.
Na polícia. No dia seguinte ao desembarque, Batinga foi intimado a comparecer à Polícia Federal, onde teve de responder a mais de cem perguntas sobre suas atividades e contatos no exterior. “Achei normal essa convocação e fui tratado como um ser civilizado”, disse Batinga, acentuando que retornava com o propósito de reaprender o Brasil e ajuda-lo a sair “desta crise que não é só política, mas também, social, econômica e cultural”. Enquanto falava a MANCHETE, em Salvador, Batinga se preparava para retomar suas atividades regulares. Já tem uma viagem programada para o sul do país e lançará, ainda este ano, a novela Corpo da Morte, onde trata da violência do mundo atual. “E’ uma novela que fala de torturas, exílio e violência, mas tudo se desenvolve no contexto da ficção”, informa Batinga, que faz ainda outras observações: “Estivemos convivendo com outras sociedades e culturas e isso nos possibilitou uma vivência muito grande, que por certo estará refletida em nossa produção intelectual. É preciso saber que não estávamos lá a passeio e sim na condição de exilado, o que nos assegura outro plano de percepção das coisas”.
Sofrimento. Batinga saiu do Brasil em 1970 e foi para o Chile em companhia do também escritor José de Oliveira Falcon. Ao lado de boas recordações – a redação de vários trabalhos sobre os movimentos de libertação de países africanos e a publicação de artigos sobre a cultura brasileira –, há lembranças dolorosas, como o suicídio de Falcon, em 1971, em Santiago, de Maria Auxiliadora Barcelos, em Berlim, e de Frei Tito de Alencar, na França, todos eles exilados políticos. Batinga relembra também sua prisão, quando da derrubada do governo Salvador Allende, no Chile. Justamente com mais de seis mil pessoas, foi conduzido, em 1973, para o Estádio Nacional, onde muitos adeptos do regime deposto foram torturados e fuzilados. Em dezembro de 1973, por interferência direta de Bonn, conseguiu viajar para a República Federal da Alemanha, onde passou a trabalhar como professor na Universidade de Frankfurt. Ao se mudar para Portugal, impetrou um mandado de segurança para obter passaporte e retornar ao país, tendo ganho de causa, no Tribunal Federal de Recursos, por unanimidade. “Acredito que o Brasil não pode prescindir de nenhum de seus filhos, muitos deles altamente qualificados em vários setores da atividade intelectual”, completa Batinga.
(Reynivaldo Brito/Salvador)