Objetivo


domingo, 23 de outubro de 2011

ARTES VISUAIS - FUNDAÇÃO HANSEN NÃO TEM SEDE PARA GUARDAR ACERVO


ARTES VISUAIS
Texto Reynivaldo Brito








  Hansen com sua Ilse em São Felix


Revista Manchete 25 de março de 1970

Há trinta anos, desembarcou em Salvador o gravador alemão Hansen. A terra lhe foi tão agradável que, cinco anos depois, ele se naturalizou brasileiro e adotou o nome Hansen-Bahia. Com sua obra, capaz de captar a mestiçagem e o misticismo da cultura afro-brasileira, vista por um estrangeiro, o artista conquistou fama no país e no exterior, publicando vinte e cinco livros sobre artes plásticas na Europa. Ensinou gravura e expôs suas obras na República Federal da Alemanha e na Etiópia. Mas, nem por isso deixou de voltar para Cachoeira, na Bahia, onde criara, em 1976, a Fundação Hansen-Bahia, para a qual doou três mil matrizes originais de seus livros e os instrumentos de seu trabalho.
Para recolher tal acervo foi escolhido um casarão em Cachoeira, velho de cem anos, e em mau estado de conservação. Para a sua restauração foi escolhido o arquiteto alemão Carl von Hamenschild e logo as complicações começaram. Os técnicos do IPHAN, sob pressão de intelectuais de vários pontos do país , interditaram a reconstrução, alegando que todas as antigas janelas do prédio haviam se transformado em portas. Tentando solucionar o problema, o Governador Roberto Santos, da Bahia, solicitou ao diretor do Patrimônio Artístico e Cultural do Estado, Mário Mendonça , que servisse de intermediário.

AS VERBAS

Segundo Mendonça , informou a Manchete, a futura casa-sede da Fundação Hansen-Bahia, uma antiga fábrica de colchões , “ não tem qualquer valor histórico, apenas está incorporada à paisagem da cidade”. Sua restauração, porém, só poderá ser feita se um problema mais grave for resolvido: o da falta de dinheiro. Até o momento, existe apenas a verba insuficiente, de Cr$400 mil, liberada pelo Ministério da Educação e Cultura, além de promessas de doações feitas pela Fundação Alvares Penteado, de São Paulo, e de prefeitos da Região Metropolitana de Salvador, tais como os de Camaçari, São Francisco do Conde e, evidentemente, Cachoeira. Enquanto isso, Hansen-Bahia, convalescendo de recente operação, espera numa fazenda nos arredores de Cachoeira um abrigo para a sua doação.




SAUDADES DE  HANSEN

Foi a última vez que encontrei Hansen e Ilse em sua casa na cidade de São Félix. Ele estava muito doente e construía uma piscina em sua casa, a qual não chegou a concluir. Falava do futuro e tinha fé que sairia daquela situação em que se encontrava. Não saiu. Para tristeza de todos que gostavam deste alemão que adotou a Bahia como seu sobrenome. Ficou a saudade. Muita saudade de seu jeito, que a princípio parecia grosseiro mas, que sabia cativar as pessoas. Tenho alguns trabalhos de Hansen, e cada vez que olho para eles lembro de seu jeito simples e quase rude. Lembro de suas risadas altas e seu pavio curto, que explodia com certa facilidade.Este foi o Hansen que conheci.Um dos grandes gravadores que já apareceram por aqui.
Ele soube captar , a exemplo de Carybé, este jeito baiano do povo simples do Mercado de São Miguel,da Feira de São Joaquim,da rampa do Mercado Modelo.
Mirou as prostitutas e os malandros tão presentesna obra do grande escritor
Jorge Amado, um injustiçado por não ter sido laureado com o Prêmio Nobel de Literatura.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

MEIO AMBIENTE - O HORRÍVEL SOM DA PREFEITURA

OPINIÃO
Reynivaldo Brito

Telefonei para o 2201-6660 ,hoje, dia 12, por volta das 19 horas, com o objetivo de reclamar da poluição sonora que vinha do início da rua Valle Cabral, na Pituba. Alguém que não tem qualquer noção de cidadania resolveu fazer um show de axé em plena via pública incomodando toda a vizinhança.
Para minha surpresa fui obrigado a ouvir por quase 5 minutos um som do mesmo nível e de altura quase idêntica ao que me propunha a reclamar.Por dezenas de vezes ouvi "Sua ligação é muito importante. Dentro de instantes vamos atende-lo."Cansei de tanto ouvir esta mensagem chata, além de outra de propaganda da Prefeitura com uma letra pobre em rítmo de pagode.
Aliás, por falar em propaganda, nunca tinha ouvido e assistido tanta propaganda da Prefeitura e do Governo do Estado como está acontecendo agora. Tenho informações que as televisões tsambém nunca faturaram tanto do município e do estado como nas atuais administrações. Com a palavra o Ministério Público e os tribunais de contas do município e do estado.
Voltando ao som que tentei reclamar, terminei por desistir e, isto deve estar ocorrendo com muitos cidadãos desta Cidade que tentaram ou tentam reclamar da poluição sonora . Simplesmente, posso dar este depoimento que se funciona, tem um péssimo atendimento.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

RELIGIÃO - MONGES BENEDITINOS - O TRABALHO E AS IDÉIAS

A TARDE – DOMINGO, 3 DE SETEMBRO DE 1978
Texto Reynivaldo Brito


Uma das personalidades do clero em Salvador mais conhecidas era d. Jerônimo de Sá Cavalcante, ( foto) já falecido, um cearense natural de Fortaleza que dividiu sua vida sacerdotal entre a Bahia e Pernambuco, onde deu os primeiros passos para a fundação da atual Faculdade de Filosofia daquele estado. Ordenou-se na Alemanha, em Beuron ,em 1939.No ano de 1942 retornou ao Brasil, sendo designado para servir na cidade de Garanhuns, interior de Pernambuco, vindo depois para Salvador. Foi durante dez anos o prior do mosteiro e renunciou em abril de 1975 depois de uma entrevista dada a um jornal local sobre o divórcio, tema proibido naquela época a debate público por sacerdotes. Mas, o monge não mudou e suas idéias continuaram sendo defendidas visando à defesa e promoção da pessoa humana.
Dizia d. Jerônimo que sua preocupação era de estar presente não apenas nos momentos de angústia da comunidade, mas, também, nos momentos de alegria. Pouco antes de ser monge estava estudando muito a Teologia para sentir e encontrar a doutrina do povo. "Quando falamos em cristianismo lembramos o Cristo que no século IV foi descoberto pelos homens como sendo o Deus. Hoje estou estudando esta problemática que considero difícil e da mais alta importância para nós. Sei que é uma problemática difícil de ser entendida por alguns. Enquanto a igreja se apresenta no plano social, é claro que, todos entendem e aceitam, quando tratamos de Deus surgem as dúvidas para as quais temos e também buscamos respostas. E, o Cristo que trouxe a sua mensagem. Por isto não estou preocupado em fazer, mas estou preocupado em ser. Reflito sobre a Teologia da Libertação e chego até aos miseráveis que habitam este Nordeste e mesmo os Alagados, que é uma comunidade com mais de 100 mil almas, vivendo uma vida sub-humana sob todos os aspectos. Compreendo que o desequilíbrio dessas regiões ou locais em relação a outras desenvolvidas não é porque Deus quer e, sim, porque os homens vivem distorcendo as coisas e só pensam na riqueza” – Dizia d. Jerônimo numa entrevista que fiz para a revista Manchete.
Confessou que existem posições contraditórias dentro do próprio mosteiro e foi mais além “dentro da própria ordem”. “Mas isto – adiantou – demonstra a nossa independência. Basta dizer que os mosteiros são independentes. Tem governo próprio através do abade e do prior. Acho a discórdia muito válida e é bom salientar que na base estamos irmanados no mesmo pensamento em busca do Cristo que dá resposta aos nossos problemas”.
Continuava afirmando que "o matrimonio é uma comunidade de amor. Para isto o cristianismo deveria ter uma preocupação constante com a essencialidade do matrimonio que é o amor. Não existindo amor não sou favorável que as pessoas continuem juntas. E, vou mais além. Quando estudo a questão da reprodução humana vejo o problema do ponto de vista teológico que o casal tem essencialmente o direito de ter um filho que quer e quando quiser. É um direito do homem, inerente a ele de exercer a sua função reprodutiva em plena liberdade e sem constrangimento, seja ele qual for, procurando descobrir aquelas normas que dirige e governa no mundo. O filho não é fruto do fatalismo ou da simples Providência Divina. O filho é resultado exclusivo da vontade de duas pessoas: um homem e uma mulher. Eles é que decidem a geração de um ser. É um ato altamente humano onde participa a liberdade plena do casal. Sei que alguns ainda vêm o casamento no cristianismo o encontro sexual do homem e da mulher como primordialmente reprodutivo, quando na realidade deve ser unitário, o que pode ser comprovado pela Teologia e a própria Ciência."
Falando sobre seu contato com a Juventude quando participava e orientava os integrantes da Juventude Universitária Católica – JUC declarou d. Jerônimo que sentia e compreendia a revolta do jovem. “O meu contato atual com os jovens permite que tenha uma idéia que o jovem demonstra uma rejeição ao cristianismo hoje apresentado. Isto porque o jovem não encontra este cristianismo respostas para seus anseios e nós que os lideramos do ponto de vista espiritual precisamos ter muito cuidado na apresentação da doutrina de Cristo. É preciso entender e falar a linguagem do jovem para ser aceito e influir em seu comportamento."
E continuou " Não apenas os jovens rejeitam o cristianismo hoje em dia. Isto porque o cristianismo que muitos apresentam é puramente europeu fora de nossa realidade. É bom para nós brancos, descendentes de europeus, mas não para o índio ou o negro. E dentro deste ponto de vista que ora desenvolvo meus estudos para entender a doutrina própria da comunidade em que gravito”.
Além de estudar d. Jerônimo tinha várias atividades fora do mosteiro entre as quais era membro da Associação de Dirigentes Cristãos de Empresas (fundador) e trabalhava no Inocoop, órgão encarregado de orientar e traçar a politica das cooperativas habitacionais. Visitava fábricas e mesmo conjuntos habitacionais já construídos para saber das necessidades dos adquirentes. Sua luta no Inocoop era pela construção de unidades habitacionais dignos e de fácil aquisição. Era ainda conselheiro de vários casais que enfrentam problemas matrimoniais.
Finalizando sua entrevista d. Jerônimo de Sá Cavalcante, um monge de idéias consideradas progressistas fez questão de afirmar que tinha muita fé em Cristo e acreditava que tudo começa do homem para Deus. Esperava ter ainda saúde para continuar ajudando a todos aquelas que precisam e a entender os problemas sempre renovados da juventude.

                                                                   ARTISTA
Já o irmão Paulo Lachenmayer chegou à Bahia em 1922 com mais três colegas: José Endres Lohr, atual arquivista e historiador, Conrado Metzger, já falecido e d. Clemente da Silva Nigra, que dirigiu o Museu de Arte Sacra da Bahia por um longo período. Por serem alemães sofreram muito durante a II Guerra Mundial, o que é relembrado com tristeza pelo irmão Paulo um artista nato que estudou com grandes mestres em sua terra natal a escultura e arquitetura interior de templos. Ele faz questão de afirmar que “não sou decorador. Sou um arquiteto especializado em interiores sacros. Não trabalho com arte profana. Sei que muitos arquitetos fazem trabalhos em interiores de templos, mas na realidade não conhecem o assunto e fazem coisas realmente condenáveis. Ele foi consultado sobre a ambientação dos interiores das catedrais de Brasília e Rio de Janeiro, sendo que nesta última ficou muito aborrecido com umas determinações tomadas pelos responsáveis pela construção da igreja e terminou arrumando suas malas e retornando a Salvador, depois de dois anos orientando os trabalhos. Diz irmão Paulo que o grande problema é a incompreensão de algumas pessoas que não concordam com a necessidade da união da funcionalidade dos objetos com o próprio ambiente sacro dos templos”.
Na qualidade de escultor o irmão Paulo fez um grande Cristo crucificado completamente diferente dos que estamos acostumados a ver. O seu Cristo fundido em bronze e depois reproduzido em escala industrial sereno e não está retorcido na cruz. Parece aceitar os castigos impostos pelos soldados romanos com certa serenidade.
Conta irmão Paulo que fez ainda uma Santa Terezinha, bem moderna, e o então cardeal d. Augusto Alvares da Silva, já falecido, mandou retirar as duas imagens porque não representavam o Cristo e a santa. Isto foi um grande golpe e de lá para cá nunca mais esculpiu. Com isto belas e modernas imagens deixaram de ser esculpidas voltando-se para criar brazões para irmandades, prefeituras e igrejas. Um trabalho que o tornou conhecido não apenas no Brasil, mas em vários países. E hoje um estudioso da Heráldica. Para ele a Heráldica não tem aprendizado, tudo depende da convivência. Pelos livros ninguém aprende Heráldica. É preciso sentir e entrar na alma desta arte.


                                                                  RECOLHIDO

O monge d. José Lohr Endres vive praticamente recolhido. Quase não participa das reuniões e orações feitas em conjunto. Sua vida está ligada às pesquisas que desenvolve sobre a ordem no Brasil e no exterior. Publicou em 1975 um extenso trabalho intitulado “Catalogo dos bispos gerais, provinciais, abades e mais cargos da Ordem de São Bento do Brasil” de 1582 a 1975 onde traz informações detalhadas sobre mais de 500 religiosos. Um trabalho paciente e considera de grande importância para o estudo da ordem beneditina.Atualmente, encontra-se no prelo um livro de quase 300 páginas. “O ordem de São Bento no Brasil”, que deverá se lançado dentro em breve. Além destes d. José está escrevendo e revendo outros trabalhos já concluídos.
É responsável pelo arquivo do mosteiro e mantém sob sua guarda importantes documentos. Muitos historiadores o procuram para consultas sobre assuntos ligados a História da Bahia, da qual a ordem tem uma participação considerável.
O monge d. Mariano Costa Rego é o responsável pelo setor de serviço social, fundado por ele há três anos, que já conta com mais de dois mil atendimentos. Foi nomeado pela Arquidiocese de Salvador como coordenador da Comissão de Ecumenismo. Disse que “por enquanto estamos mantendo contatos com religiões cristãs. Mas, devido à própria formação religiosa baiana teremos que expandir nossos contatos com outras religiões e seitas”. Ensina ainda duas cadeiras na Faculdade de Filosofia da Universidade Católica do Salvador e receber incumbências e solicitações do bispo que “assumo com grande alegria“.
Falando sobre seu trabalho a frente do Serviço Social do mosteiro de São Bento da Bahia diz d. Mariano que “temos duas faixas de atendimento. Para os nossos funcionários e para o pessoal que nos procuram. O atendimento aos funcionários é mais efetivo, pois procuramos acompanhá-los em seus desejos e necessidades”.
Tem uma idéia bastante interessante sobre o celibato. Diz que o celibato é uma escolha positiva da descoberta de um amor maior, que é plenamente capaz de catalizar todas as forças a serviços de Deus. Isto é enquanto um homem casa e ama uma mulher, nós amamos a todos.

                                                                                     REALIZADA


A prioresa do novo mosteiro das monjas beneditinas em Salvador Joana Calmon Villas Boas disse que “estamos aqui para um grande trabalho de promoção humana que esperamos contar com a ajuda dos baianos. Há 20 anos que estou na ordem, depois de ter sido professora com curso de mestrado no Canadá e outros países da Escola de Enfermagem da Universidade Federal da Bahia. Entrei para o mosteiro um pouco tarde não porque a vocação chegou depois. Mas porque tive que orientar a criação de meus irmãos devido ao falecimento de minha mãe. Isto foi bom porque conheci a vida exterior. A vida religiosa foi para mim uma imensa riqueza que Deus me deu. Sou plenamente feliz como pessoa, como era antes de entrar pra o convento, pois era uma profissional respeitada e venho de uma família de certos recursos. O que desejo agora é trabalhar com minhas colegas. Vamos ter uma vida contemplativa refletindo com as pessoas que vão nos procurar, com os jovens e casais. Pretendemos desenvolver um Serviço Social tendo uma vista a promoção humana”.
Junto com a prioresa veio à monja Vera Lúcia Parreira Horta, carioca, que estava no mosteiro de Belo Horizonte há 10 anos. Moraram alguns anos em Salvador onde frequentava a Escola de Teatro e Dança como qualquer universitária. Chegou a estudar dança. Abandonou tudo e abraçou a vida religiosa. Ela é uma das principais pelas orações que são contadas, feitas pelas monjas.

                                                     VIDAS DOS HOMENS

O abade d. Timóteo Amoroso Anastácio, do Mosteiro de São Bento da Bahia afirma que o que caracteriza a vocação monástica é a busca de Deus. O monaquismo (e a vida religiosa em geral) só se define por este objetivo: buscar a Deus. Por isto, quaisquer que sejam as suas atividades pessoas e comunitárias, a vida do monge é toda orientada para esta finalidade. “Mas esta busca se faz numa comunidade de irmãos que descobriram em si idêntico apelo se consagram a isto, através da oração particular e comum, do trabalho, do serviço dos homens”.
– É interessante notar que a verdadeira busca de Deus jamais se realizou, no monaquismo beneditino, à custa do desapreço pela vida dos homens, pela história dos homens. Em toda parte onde floresceu este tipo de vida, processou-se naturalmente uma admirável harmonia entre o culto e a cultura, isto é, a busca de Deus e a solidariedade com os valores humanos autênticos. Deste modo, os monges beneditinos nunca podem alienar-se das aspirações mais genuínas dos homens, especialmente do grito mais ou menos conscientes que sobe da consciência humana por liberdade, justiça, solidariedade e paz.
D. Timóteo adianta que “unidos em sua vida o ideal do lema “ora et labora”, os monges tentam juntar e harmonizar as três dimensões essenciais do homem em geral: a adoração de Deus, o trabalho de construção da historia humana e a fraternidade universal. Nem sempre, ao longo da história beneditina de quase 1.500 anos, temos sido plenamente fiéis a esse tríplice sentido da nossa vida. Mas esse ideal está sempre chamando o monge. Ele crê na nitidez deste lema nos tempos atuais.
São Bento foi isto: no mundo Caótico e violento ele instalou aquelas ilhas de paz, de oração, de trabalho, de fraternidade que influíram decisivamente para a transformação da sociedade, e na defesa dos valores humanos ameaçados de extinção. Este é o exemplo que Bento nos deixou. Não pretendemos intervir no mundo, mas acreditamos na força secreta e na eficácia misteriosa dos valores de paz e de beleza, que nos inspiram”.

                                                                PARTICIPAÇÃO

Com a fundação do mosteiro de São Bento da Bahia e em outros estados os beneditinos começam a estender sua influência, não só no campo religioso como no econômico e cultural. Dentro dos mosteiros encontramos monges desenvolvendo atividades de grande relevância para as comunidades que o circundam. Os monges não ficam apenas preocupados com a vida contemplativa. Eles têm atividades dentro e fora dos mosteiros que são importantes. Nas artes lembramos de frei Agostinhos da Piedade, da Bahia , que fez muita imagens em terracota, consideração o mais importante ceremista do século XVII, o frei Ricardo do Pilar, um grande pintor; frei Domingos da Conceição e Silva, escultor e frei Agostinho de Jesus responsável pelos trabalhos em cerâmica do extintor mosteiro de Parnaíba, em São Paulo. Estes são alguns poucos dos nomes que sobressaíram através da história dos beneditinos no Brasil. Dezenas de outros nomes poderiam ser aqui citadas. Isto porque a criação é uma constante dentro dos mosteiros onde vivem pesquisando, estudando e trabalhando homens de grande talento.

RELIGIÃO - MONGES BENEDITINOS:QUATRO SÉCULOS DE VANGUARDA RELIGIOSA

A Tarde - domingo , 27 de agosto de1978
Texto Reynivaldo Brito


Há quatro séculos chegaram a Salvador, na Bahia, os primeiros monges beneditinos com o objetivo de fundar um mosteiro desta importante ordem religiosa em terras do Novo Mundo. Foram recebidos com euforia pela população. Meses depois iniciavam a construção de mosteiros, que desde aquela época são uma presença marcante na vida religiosa ,econômica e cultural do Estado. Defensores do lema “Ora e trabalha” os monges beneditinos harmonizaram três dimensões essenciais do homem: a adoração a Deus, o trabalho de construção da história humana e a fraternidade universal. Um lema que tem acompanhado os membros da ordem durante os séculos. Suas idéias e projetos nem sempre receberam ou recebem a aprovação de determinados setores da sociedade brasileira. Mas, a desaprovação nunca esmorece um monge beneditino, que deseja uma participação maior junto à comunidade que serve. Foram eles os responsáveis pela implantação dos Cursos Jurídicos e de Agronomia no país e são ferrenhos defensores das liberdades individuais.
 Na foto ao lado a arquitetura majestosa da igreja de São Bento
Desde o ano passado que os mosteiros beneditinos estão em festa comemorando ainda dois importantes acontecimentos ligados à vida da ordem: O Sesquicentenário da criação da Ordem Beneditina Brasileira, que foi separada da Ordem Beneditina de Portugal através da Bula Inter Gravíssimas Curas, do papa Leão XII, datada de 1 de julho de 1827, e a chegada do Brasil dos monges alemães e belgas da congregação de Beuron, que vieram repovoar os mosteiros que estavam enfrentando sérias dificuldades em fins do século passado devido a uma grande crise vocacional. Estas comemorações antecedem uma grande festa que ocorrerá em 1981 quando o mosteiro de São Bento da Bahia completará 400 anos de fundado. As idéias progressistas dos monges beneditinos estão presentes em vários momentos da História do Brasil. Quatro mil escravos foram libertados 17 anos antes da Lei Áurea, ou seja, em 1871 quando houve a libertação geral livrando-se a ordem de uma mancha de muitos anos.
Durante a invasão holandesa os monges foram defensores das terras do Brasil organizando e apoiando focos de combates. Em 1630 os holandeses praticamente destruíram os mosteiros da Bahia e Olinda e os monges se refugiaram em fazendas no interior. Depois de duas décadas voltaram e reconstruíram seus mosteiros, que tantos serviços religiosos e culturais emprestam ao país.
Explica o historiador do Mosteiro de São Bento, d. José Lohr Endres que as igrejas e os mosteiros foram planejados por arquitetos da ordem e na Bahia se destaca o Museu de Arte Sacra, o convento dos Teresios, a igreja da Misericórdia, a Prefeitura e, provavelmente, o antigo palácio do Governo. O próprio mosteiro de São Bento da Bahia é um dos exemplares mais bem conservados da arquitetura beneditina. Embora tenha sido reformulado várias vezes.
Em 1624 os holandeses ocuparam o mosteiro e em 30 de março de 1625 foi transformado em Quartel General do Sul. Aos 2 de abril de 1625 os holandeses, num ataque inesperado, mataram grande parte da guarnição que hoje está sepultada no seu claustro. A destruição ocorre nesta época, deixando de pé alguns muros. A reconstrução durou muito tempo e em 1750 os trabalhos foram paralisados devido à perseguição movida pelo Marquês de Pombal às congregações monásticas. Um século depois o abade d. Arsênio da Natividade retomou a reconstrução do mosteiro.

                                                                EXPANSÃO
Partindo da Bahia os beneditinos procuraram expandir suas idéias e entre os anos de 1582 a 1586 (existe dúvida quanto à data exata) fundaram o mosteiro de Olinda. Seguiram-se os mosteiros do Rio de Janeiro em 1593, e o de São Paulo em 1610. Novas fundações ocorreram durante o século XVII, entre os quais o da Paraíba, no Recôncavo Baiano, em Parnaíba e Santos, ambos no estado de São Paulo.
O crescimento do número de monges e mosteiros possibilitou uma presença maior na vida da comunidade quer no campo religioso como no campo econômico por meio de seus engenhos e grandes fazendas. Em Olinda eles cultivaram em grande escala a cana-de-açúcar e no Rio de Janeiro a pecuária que alimentavam muitos habitantes da cidade naquela época. São conhecidos a Grande Fazenda de Campos e o Engenho de São Bento de Iguaçu, que faziam parte do mosteiro do Rio de Janeiro.
Foi no mosteiro de Olinda o berço do primeiro curso jurídico do Brasil, ao lado do curso iniciado em São Paulo. Logo depois a perseguição movida pela maçonaria e pelo Marquês de Pombal resultaram em sérias dificuldades para os monges que já não contavam com a ajuda dos governantes que proibiram o reconhecimento dos cursos realizados por alguns noviços que foram enviados para Europa com o objetivo de evitar o esvaziamento dos mosteiros. Somente em 1890, já na República é que o monge Domingos da Transfiguração Machado reiniciou o repovoamento dos mosteiros.
Contam os historiadores que na época da realização do primeiro congresso dos Abades Beneditinos, em Roma, em 1893 o Papa Leão XIII pediu a congregação Beneditina de Beuron, Alemanha, que se incumbisse da missão de restaurar a ordem no Brasil. Finalmente foi encarregado o mosteiro de Maredsous, na Bélgica, pertencente aos alemães que enviou alguns monges chefiados por d. Gerardo Van Caloen, que desembarcou em Recife no dia 17 de agosto de 1895. Os 16 monges e d. Gerardo foram recebidos pelo único colega existente em Olinda, d. José de Santa Julia Botelho e o abade-geral, d. Domingos da Transfiguração Machado. Foram depois para a Bahia e São Paulo. Porém, no Rio de Janeiro foram repelidos pelo abade d. João das Mercês Ramos, o qual não aceitava os belgas e insuflou os fiéis contra os novos sacerdotes. A população invadia o mosteiro e os monges conseguiram fugir com ajuda de um velho ex-escravo até que foram garantidos pela polícia e o trabalho prosseguiu.

                                           HOJE ESTÁ CRESCENDO


Enfrentando momentos difíceis através dos tempos os beneditinos são atualmente muito procurados por jovens que desejam abraçar a vida religiosa. Segundo declarações recentes do abade-presidente da Congregação Beneditina Brasileira, d. Basilio Penido “nunca nos últimos 50 anos, tivemos tanta procura; hoje, a ordem tem 30 noviços e postulantes. Isso é bom sinal, pois antes, há uns 10 anos os jovens nos procuravam com o aspecto social ou político, mas hoje, a maioria vem por causa da oração. Não que sejam campos antagônicos, e, sim, complementares. São os mesmos jovens que ora se aprofundam nessa ou naquela direção. E, estamos sempre prontos para acolher todos para reza conosco”.
Na foto ao alto os monges beneditinos baianos ouvem a palavra do abade D. Timóteo Amoroso.

No ano passado dois jovens baianos entraram para o noviciado no mosteiro de São Bento da Bahia, são eles: Carlos Francisco Linhares e Moacir de Azevedo Rabelo Leite, ambos com 20 anos de idade. Estavam há dois anos na qualidade de postulantes ao noviciado. Eles participavam dos movimentos de jovens do mosteiro e segundo declararam a vontade abraçarem a vida monástica veio aos poucos.
Embora a ordem tenha uma atuação marcante na Bahia, somente agora está sendo implantado um mosteiro dedicado as monjas beneditinas. Dois terrenos já foram oferecidos por pessoas ligadas ao clero, sendo um localizado nos arredores da cidade e outro no município de São Francisco do Conde, que dista cerca de 60 quilômetros de Salvador. Oficialmente o mosteiro já foi criado e as monjas que vieram sob a orientação da prioresa Joana Calmon Vilas Boas estão alojadas provisoriamente nas dependências do mosteiro das irmãs Carmelitas, no bairro de Brotas. Elas já foram abençoadas pelo cardeal e Primaz do Brasil d. Avelar Brandão Vilela, durante uma cerimônia realizada na capela do referido mosteiro.
Conta à prioresa Joana Villas Boas que somente em 1910 é que surgiu o primeiro mosteiro para moças interessadas em ingressar na vida religiosa beneditina. A primeira monja foi Gertrudes da Silva Prado que por não existir templos femininos no Brasil, teve que se deslocar de São Paulo para Stambrook, na localidade de Calow End, na Inglaterra, onde fez o noviciado. Mais tarde, ao lado outras moças fundou o mosteiro de Santa Maria, em São Paulo vindo a ser a primeira abadessa da ordem no Brasil. Este mosteiro possibilitou a fundação de outros a saber: em Buenos Aires, Montevidéu, Juiz de Fora e Belo Horizonte. Neste último residem 45 monjas, cinco das quais vieram fundar o mosteiro na Bahia. Além desses ainda existem mosteiros em Olinda e Caxambu.
Explica a monja que pretende além da vida de orações, incrementar os trabalhos de promoção humana e receberão hóspedes que queiram participar das orações.

                                                   PARTICIPAÇÃO

As atividades dos beneditinos vêm sendo ampliada. Na Bahia eles possuem o Ginásio São Bento, a Tipografia e Editora Beneditina, o Coral da Juventude, um Serviço Social com dois campos de ação – um em função dos funcionários da ordem quebrando o relacionamento tradicional entre o padrão e o empregado, e outro, destinado aos pobres que procuram os monges. Além de manterem contatos permanentes em vários setores da sociedade com empresários, jovens e operários. Um trabalho abrangente de um grupo de homens dedicados a servir aos semelhantes.
A ordem criada em 543 por São Bento, um estudante de Direito, nascido em Múscia, na Itália conta atualmente na Bahia com 11 monges e seis irmãos. O abade é d. Timóteo Amoroso Anastácio é o prior d. Noberto Santana responsável pela direção do Ginásio São Bento e pela administração do mosteiro.

EDUCAÇÃO - ALEMANHA : QUALIDADE SÓ COM FORMAÇÃO PROFISSIONAL

ALEMANHA - educação

A TARDE – Quinta-feira 28/10/1993
Texto Reynivaldo Brito

Estamos assistindo a uma movimentação, principalmente no setor empresarial, com manifestações em defesa da qualidade dos produtos e serviços oferecidos no País. Só que estão começando pelo fim. Não se pode pensar em qualidade sem uma base de formação profissional que garanta a continuidade deste processo, responsável pelo desenvolvimento dos países que estão na linha de frente da civilização moderna. Aí estão o Japão, os Estados Unidos, a Alemanha e até mesmo alguns chamados de “Tigres Asiáticos”, dentre outros. Estes países investem na formação profissional e acreditam que somente desta maneira é possível garantir a qualidade de seus produtos. Isto é possível graças ao entrosamento entre a escola pública e as empresas. É sobre esta experiência que trata esta reportagem, após uma visita de duas semanas à Alemanha conversando com autoridades, empresários, professores e estudantes. Lá também existem problemas e conflitos porque estamos tratando da formação do profissional, e onde está presente o homem, existem divergências. Porém, a formação “Dual” é à base do sucesso de grandes corporações alemãs.
Na foto à esquerda , mostra que nas escolas  profissionais o  manejo de  máquinas como as furadeiras de grande porte é comum entre os alunos.

Os alemães competem no mercado internacional com produtos de qualidade indiscutível. Os equipamentos ópticos, gráficos, seus automóveis (Mercedes-Benz e BMW), dentre muitos outros produtos são feitos com um esmero que espanta o desavisado. Tudo é feito para durar. Até uma simples carteira ou mesa de escritório é feita para durar muitos anos. A sociedade do descartável que implantaram no Brasil quase não tem espaço, porque os produtos são feitos realmente para durar. São fortes e bem feitos. Esta filosofia inclusive está sendo perseguida pelos japoneses que, após conseguirem miniaturizar quase tudo, agora buscam atingir um alto grau de qualidade e sofisticação.
A maioria dos jovens que termina a escola básica segue para as escolas de formação profissional. Isso é que os alemães chamam de sistema dualista ou dual, que resulta da união da formação prática numa empresa com a formação teórica na escola pública. Assim, a economia privada e o Estado juntos são responsáveis pela formação de milhões de jovens. Esta responsabilidade está faltando em muitos empresários brasileiros, inclusive nos dirigentes das grandes corporações, que podem criar escolas profissionais próprias para preparação de uma mão-de-obra qualificada, além de se beneficiar com a relação que se estabelece entre o aprendiz e a empresa. O trabalhador passa a gosta da empresa, produz mais, conserva melhor o maquinário e outros equipamentos de uso individual ou coletivo dentro da organização.
Na Alemanha, a União é responsável pelas normas de formação, enquanto que as escolas profissionais estão sujeitas a cada estado federal. Existem quase 400 profissões reconhecidas, mas a preferência dos Jovens recai sobre uma dezena delas, principalmente de mecânico de automóveis, instalador elétrico, comerciante, pintor e marceneiro. As mulheres preferem profissões como cabelereira, vendedora, comerciária e de assistente médica e dentária.
Estive visitando várias escolas profissionais em companhia de mais quatro jornalistas latino-americanos: Maria Guadalupe, da Bolívia; Alberto Borges, do Equador; Rosalina Orocú Mojica, do Panamá, e Carlos Juanes,de El Salvador, quando constatamos a seriedade com que o ensino é ministrado, além da disciplina quase monástica.

                                                   ALTERNÂNCIA

A formação do jovem alemão acontece diferentimente do que estamos acostumados a ver aqui no Brasil. Lá o aluno ao lado da formação na empresa, onde inclusive ganha uma bolsa que varia de 300 a 600 marcos no primeiro ano, indo até 800 marcos no último ano, o jovem frequenta a escola profissional de um a dois dias por semana, durante três anos. Nas aulas, além das matérias de formação geral o aluno recebe conhecimentos teóricos específicos. Esta escola é ainda obrigatória para todos os jovens menores de 18 que não frequentam uma outra escola. Porém, verifique que em algumas escolas ao invés de alternar os dias da semana na empresa e na escola eles preferem alternar semanas, isto é, passam uma ou duas semanas na empresa e uma semana na escola.
Numa indústria de máquinas de fazer cigarros, que é mantida por uma fundação milionária, visitamos a escola da empresa onde estudam 127 alunos e são empregados cerca de 7,5 milhões de marcos por ano na formação profissional, inclusive com a presença de alguns estrangeiros especialmente dos países da ex-Iugoslávia. Lá, verificamos que a formação tem uma disciplina que é essencial para a formação do homem. Não são ensinados apenas aspectos técnicos de como fazer uma peça de metal, mexer no computador ou fazer um desenho. É preciso tratar bem os equipamentos, limpar a área do seu aprendizado, cumprir rigorosamente os horários e estudar as lições passadas pelos mestres. O mestre tem uma ascendência muito grande sobre seus alunos que o respeitam muito e o tratam com referência. Esta disciplina foi uma das coisas que mais chamou a atenção do grupo de jornalistas latinos acostumados com a bagunça que reina em muitas escolas deste hemisfério.
Com isso não quero dizer que lá não existem problemas. Existem sim, e muitos. Tivemos oportunidades de ver na estação de trem de Hamburgo vários jovens drogados que ficam reunidos o dia inteiro naquele local bebendo e acertando seus encontros marginais. A Polícia assiste a tudo de longe só interfere quando acontece um problema maior. Esta área inclusive é considerada perigosa, e os turistas são avisados para não andarem sós por aquelas bandas em determinados horários.

                                                      
                                                           OUTRAS MANEIRAS

Também é verdade que ao lado do aprendizado na empresa e na escola profissional existem outras maneiras de formação profissional, escolhidas por um número cada vez maior de jovens. Um delas é a escola profissional especializada em tempo integral, que dura um ano, e a outra é a escola superior especializada, que acolhe os alunos com o certificado de conclusão da escola real, que, após dois anos de estudos, estão de posse do certificado de madureza da escola média-superior especializada. O aprendizado em oficinas próprias, estágios de aulas práticas e teoria integram seu currículo.
 Na foto estrangeiros são treinados e o estudo do alemão é obrigatório para início da formação
É certo que varia de dois a três anos o aprendizado nas escolas como as que mantêm a Siemens e a Mercedes-Benz, a depender da profissão que o aluno escolhe. Ele recebe uma remuneração que só tem aumento anual. É bom sempre lembrar que a inflação por lá é baixa. A Alemanha tem um alto padrão de vida, porém o custo dos produtos está alto em toda a Europa.
Esses alunos são regidos por normas educacionais baixadas pelos ministros federais, tendo como base sugestões dos conselhos que são formados por federações industriais, organizações estatais e sindicatos. Essas normas determinam o conteúdo dos currículos, mas todos são obrigados a prestar exames nas Câmeras de Indústrias, do Comércio, do Artesanato e da Agricultura e órgãos semelhantes. Estas câmaras compõem suas bancas examinadoras com representantes dos trabalhadores e professores da escola profissional.
São mais de 500 mil empresas de todos os ramos da atividade econômica que têm seus aprendizes que são submetidos, ao término de dois a três anos, aos exames das câmaras. Ai, os alemães garantem a qualidade e só realmente encontram emprego seguro aqueles que são aprovados. Os exames são rigorosos e os aprendizes tem que estudar bastante.
É difícil alguém começar a sua vida profissional na República Federal da Alemanha sem ter tido uma formação, o que comprova o sucesso e a efetividade do sistema dualista de formação profissional. A fiscalização é severa e feita pelas câmeras que não permitem enfraquecer a sua atuação e também provocar ao longo dos anos a perda da qualidade dos produtos a da mão-de-obra nos serviços oferecidos no país. Ao lado da formação profissional, também as universidades alemãs têm papel destacado na formação do jovem. A mais antiga delas é a Heidelberg, fundada em 1386. São mais de vinte universidades estatais e particulares. Na universidade rege a autogestão presidida por um reitor ou por um presidente, que é eleito para vários anos. Lá, o estudo nas universidades é concluído com o diploma, com o mestrado ou com a licenciatura, a seguir a possibilidade de obter-se uma maior qualificação através de doutorado. Também é feita uma seleção através de teste e entrevistas, principalmente para os cursos mais solicitados.
Já a formação de adultos atinge hoje mais de 10 milhões de cidadãos que buscam atualização do conhecimento numa sociedade industrial que se renova rapidamente, onde centenas são obrigados a mudar de profissão para garantir sua sobrevivência porque muitas ocupações vão aos poucos desaparecendo e dando lugar a novas. Aí comparecem muitos estrangeiros que se preparam para enfrentar uma nova vida.

                                                  LADO COMUNISTA

Também no leste, os alemães participavam da formação profissional, só que lá os jovens eram encaminhados obrigatoriamente para esta ou aquela profissão, levando-se em conta as vagas e a necessidade de formação, ou seja, estavam precisando de 10 mecânicos qualificados, então eram encaminhados 10 jovens, e assim por diante. Tinha um total de 55 escolas profissionais, todas estatais, as quais estão sendo paulatinamente adaptadas à nova realidade, inclusive com os currículos da ex-Alemanha Ocidental.
O certo é que a desvantagem da formação comunista tinha também um lado positivo: é que sua sobrevivência, bem ou mal, estava garantida. Ou seja, ao término do curso, você tinha um lugar assegurado. Agora, a liberdade de escolher o que se deseja, também não assegura um lugar de trabalho. É preciso competir e atingir uma boa formação para disputar o mercado de trabalho. Os próprios professores reconhecem que mesmo após a união das Alemanhas poucos jovens conseguem realmente trabalhar no que gostariam. Tudo é regido pela lei do mercado, portanto, tem que ser levado em conta qual a profissão que lhe garante uma sobrevivência com mais ou menos segurança. No lado comunista, muitas empresas estão sendo fechadas e centenas quebraram porque não acharam quem quisesse comprá-las. Um exemplo: ficamos hospedados num hotel localizado ao lado da estação de trens na cidade de Schwerin, o qual foi colocado a venda e ninguém se interessou. O hotel é antigo, com banheiros tão pequenos que mal dá pra você levantar o braço. O hotel é o melhor da cidade, está ameaçado de fechar deixando antigos funcionários do Leste desempregados.
Aliás, um fenômeno que está nos olhos do visitante é a frustração, após a euforia dos abraços e as festas que era oferecida pelos alemães ocidentais aos seus “irmãos” do Leste. Agora eles têm liberdade, porém, os produtos de consumo não estão – aliás como acontece com qualquer país capitalista, e a Alemanha não está insenta, porque não é nenhuma ilha de fantasia – à disposição dos que têm dinheiro. E, nem todos podem comprá-los. Você admira um BMW, uma Mercedes e roupas caras numa vitrine de um magazine de luxo, sabe que isso existe, mas não está ao seu alcance. A sedução do consumo é muito grande, frustra e vai fundo naqueles que estão sem condições de adquiri-los. O desemprego também é grande e muitos terão que ser reeducados. Para se ter uma ideia, a maneira de servir num restaurante ocidental é bem diferente da do Leste. Lá as pessoas não foram preparadas para atender bem ao cliente, conquista-lo e saber que ele é a alma do seu negócio. Estavam acostumados a servir por obrigação aos camaradas e quase sempre estavam com a cara fechada e muitos ainda continuam assim. Este pequeno detalhe é fruto de minha observação, não pode ser tomado como uma regra geral, mas, certamente existe e tenderá a desaparecer com o passar do tempo, pela exigência do próprio mercado.